domingo, 24 de fevereiro de 2008

Uma canção de amor pra Rosa, Flor de Laranjeira


Rosa, Flor de Laranjeira, vou te cantar uma canção que começa assim: de todo aquele amor, minha Rosa, restou apenas este poema, o gosto do seu beijo, as promessas feitas, os planos não concretizados, a lembrança dos olhos se fechando como num ritual, antes de nos beijarmos; as brincadeiras antes de irmos dormir; o som e o frio da noite, o nascer do dia, o banho frio, o beijo na testa, as folhas caindo, as flores surpresas; o eco das conversas ao pé do ouvido, as brigas e as tréguas, as discórdias passageiras e os beijos longos e apaixonados... O aroma do perfume que você costumava usar quando íamos nos encontrar, que me embriagava; a lembrança do seu modo de olhar pra mim, como se me despisse até a alma com o desejo que saltava através dos seus olhos, das palavras e dos dejesos tantas vezes confessados na entrega do Corpo, que eu comia como Pão, e do gozo, que eu bebia como vinho. A maciez da sua pele; a magia da sua voz cantando aquelas músicas que ficavam no lado B do disco; o seu jeito de caminhar em minha direção sempre com um olhar inquietante; a lembrança da sua imagem sempre pensativa, como naquela foto em que você é flagrada pela lente da máquina olhando para o horizonte enquanto mexe no cabelo, enrolando-o nos dedos, imagem essa que o tempo não vai desbotar tão cedo; de tudo isso sobrou um pouco, um pouco de tudo em mim: um pouco do medo, um pouco da ansiedade que nos flertava, um pouco da paixão que nos cercava, o refrão daquela música que sempre fica, assim como o perfume que teima em não sair da roupa e do corpo e da lembrança e da noite alta e clara de lua cheia em que costumava virar bicho, mas que agora eu apenas exercito a minha paciência e a minha imaginação. De tudo isso ficou um pouco, é o que restou desse pouco, que pouco a pouco começa a se desligar de tudo, de mim, de você e do “nós” que um dia se conjugou em nossas orações, sempre com verbos no futuro do presente, e que hoje estão pouco a pouco se conjugando no futuro do pretérito, minha Rosa, Flor de Laranjeira...



Xico Fredson

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