domingo, 24 de fevereiro de 2008

A gente...

A gente vive às pressas;
A gente ama às pressas;
A gente come às pressas;
A gente dorme às pressas;
A gente sente às pressas;
A gente lê uma poesia às pressas, e não a compreende;
A gente assiste a um filme às pressas e não o sente;
A gente olha um quadro às pressas e não o capta;
A gente cria os filhos às pressas e não os vê crescer;
A gente se fala às pressas e não ouve o que diz;
A gente se beija às pressas e não sente o gozo do beijo;
Despede-se às pressas;
Faz amor, imperfeitamente, às pressas.
A gente sorri às pressas
A gente reza isso quando, às pressas;
A gente acredita na existência às pressas
A gente sonha e acorda com pressa
A pressa nos tira o significado das coisas da vida
Faz-nos ficar cegos de uma cegueira branca;
A pressa nos tira o humor, a paciência, a vontade de viver.
De sorrir, etc.
A pressa não é apenas inimiga da perfeição, ela é nossa inimiga
Íntima, nossa condenação ao sofrimento e ao vazio...
A gente ama ao próximo com medo de não dar tempo
de amar a mais ninguém,
A pressa tira o gosto do beijo que antes escorria pelos nossos lábios,
Tudo culpa da pressa, até mesmo à vontade de arriscar alguma ação é-nos
Sufocada pela pressa de não dar tempo. É a força do imediatismo,
Que substitui a paciência necessária para se viver em harmonia
A pressa nos tira vários prazeres, desde os mais simples,
Como parar de fazer alguma coisa para observar um pôr-do-sol,
Até o prazer de acompanhar o desenvolvimento físico e intelectual
Dos nossos filhos, prazeres como ajudar no dever de casa, ouvi-lo falar.
Em como foi o dia de aula, em responder aqueles porquês que vão evoluindo.
Paulatinamente logo logo, a gente está sem respostas que os satisfaçam...
A pressa às vezes nos deixa ultrapassados de alguma forma,
A pressa é especialista em nos causar arrependimentos inúteis,
Como por exemplo, no caso de um telefonema adiado, um agradecimento,
Um gesto de carinho, um sorriso, tudo adiado, deixado pra mais tarde,
Pela pressa dos negócios inacabados,
A gente vive assim, largados pela falta de tempo, um dia andando pela rua
Apressado como sempre, um corpo vazio pela pressa do dia a dia,
Esbarra com uma bala perdida, que também tem pressa em encontrar
Um alvo, um foi projetado para o outro, o corpo já não tinha vida, a
Bala só queria encontrar um alvo... O que será que havia naquele corpo?
Fé? Esperança? Amor? Dúvidas? Sonhos? O que será que havia?
Ou será que nele habitava apenas a pressa em chegar a algum lugar?
Não tenho a resposta, estou com pressa, preciso pegar o meu lugar no futuro...

Xico Fredson...

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