terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Uma Polaróide

Naquela foto você estava distante, como quem toca o horizonte com o olhar, como quem sabe do que não sabemos, como quem desconfia de toda verdade. Naquela foto você estava como quem cansa de estar imersa no tédio das obviedades do mundo ou como quem sente as verdades do mundo cortá-la ao meio tal qual uma brisa matinal... Aquela foto era você e suas confissões; era você e seu mundo, seu reino, que não pertence a essa realidade; seu reino intangível, comunicável apenas pela foto, por aquele sorriso tangível quase Cartesiano...


Xico Fredson!

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Texto para minha menina...

Desisti de procurar a verdade das coisas. Desisti também de querer encontrar a verdade nas pessoas. A perfeição? Dessa eu já abdiquei faz tempo. Como diz um poeta: ela está sempre quinze léguas à nossa frente, e nossas pernas são curtas para alcançá-la, muito embora a comamos com os olhos cotidianamente... Desisti de um monte coisas. Estou adiando alguns sonhos pra depois de amanhã. Estou deixando que os aviões partam, que os navios zarpem e levem um pouco de mim em seus destinos e lancem-me feito semente nalgum lugar, nalguma parada. Um pouco de mim está lá, mas a maior parte ainda está aqui; é essa parte que não desistiu de acreditar que amar é possível e que nem tudo é mercado, que nem tudo é consumo, e que ainda há tempo para se mandar flores; para se escrever poemas; para olhar nos olhos e dizer afetos sem tremer ou temer o poder das palavras e das respostas... Essa parte é o que há de melhor em mim. A parte que não cansa de procurar. Que buscou, busca e sempre buscará o Porto Seguro de que falavam os navegantes portugueses ao se referirem à sua pátria-mátria... Essa parte de mim é o que escreve, é o que sempre escreverá poesia ou textos, mas sempre escreverá e sempre sonhará com ela, a esperança...

Xico Fredson!

Resposta de Ana a Francisco

Francisco,
Não vou dizer que ler a sua carta não me abalou, eu estaria mentindo. Dizer também que ao terminar de lê-la não me veio aos lábios um sorriso nostálgico, seria outra mentira da minha parte. Confesso que já me considerava curada de você, me achava forte, uma verdadeira muralha intransponível aos sentimentos.
Posso lhe afirmar que havia encontrado a paz e a comunhão comigo, mas depois que comecei a ler as suas cartas, muito embora ao receber sua primeira correspondência, eu tenha lutado contra a curiosidade do seu conteúdo, mesmo sabendo quem a remetia, certos momentos e emoções, que eu achava ter sepultado, voltaram a existir, ressuscitaram em minha imaginação, e sua lembrança passou a me envolver como a mao fria de um fantasma que provoca calafrios no corpo durante a madrugada...
O incrível é que voce ainda consegue me tirar de mim e me lançar em épocas tão boas, e eu nem esboço a menor resistência. Realmente aquela praça ficou marcada em nossas vidas, foi onde tudo começou, nosso marco zero, o primeiro beijo, as primeiras caricias, as primeiras discussões, a primeira vez que dissemos um breve adeus, a primeira vez que me deu flores, as minhas preferidas, lírios e margaridas, rosas salmom e rosas brancas, o buquê era lindo, um arranjo muito bem feito, e voce todo sem jeito andando com o buquê na rua, vindo em minha direção, e eu sem acreditar no que via...
Aquele foi o palco onde encenamos o começo de nossa vida, onde tivemos nossa primeira discussão, onde terminamos e recomeçamos, aquela pracinha foi o nosso gênesis e o nosso apocalipse...
Era la que ficávamos sentados observando as pessoas que iam e vinham...
Xico Fredson!

Meu poema de sete faces...

Quando nasci todos os anjos estavam de folga ou férias coletivas. o céu estava em greve. Perdi a chance de ser Gauche, de ser Carlos, de ser poeta, mas nasci torto do mesmo jeito e com um sorriso desencontrado, e me chamaram de Xico, acho que pareço mesmo com Xico e não com poeta, porque Xico é nome de qualquer coisa, menos poeta que se prese nem se pese...
Xico Fredson!

A menina I

Para Elândia, com carinho...
A menina, então, depois de se terem passados alguns minutos de reflexão sobre o que era a vida, chegou a mesma conclusão que todos chegam: não há como se chegar a grandes conclusões a respeito duma coisa que está em constante mudança, em movimentos de idas e vindas nada periódicos, sempre no capricho cruel de um recomeço, de uma refazenda. Ela aprendeu o que todos aprendemos, "a vida é o que fazemos dela" e que ela atende pelo nome que a dermos: alegria, ânsia, tristeza, felicidade, urgência... A menina resolveu que chamaria a expectativa de vida que acabara de nascer com aquele novo dia de "diferente", e com essa esperança levantou-se e com essa vontade viveu o dia de ontem, até amanhecer o dia de hoje...

Xico Fredson

A outra parte...

Hoje estou assim como se não houvesse ninguém em mim, estou parecendo uma casa vazia, silenciosa e morta como um espelho que não tem o que refletir. Resumindo, é como se eu tivesse caído e me partido em um monte de coisas: Ansiedade, Frustração, expectativas... É tanta coisa, meu Deus que nem sei pra onde ir ou por onde recomeçar. Estou com vontade de sumir, de esquecer meu nome e tudo que nele se guarda: meu credo descrente por modismo, minha razão apaixonada, minha vida vivida e todo o resto. Como disse: não sei nada do mundo e da vida. Quero a ânsia de perplexidade que buscas.

Xico Fredson

Uma Parte do todo...


Moça, a minha tristeza hoje é como a de tantas outras pessoas que passam por mim. Essa tristeza que sinto é feia como um dia nublado, assustadora como um trovão que estronda de repente, sem pedir licença; triste como uma igreja vazia de Esperança e Fé; iguala-se, mesmo, a uma grande avenida cheia de rostos desconhecidos e olhares indiferentes diante das outras pessoas, que se tornam invisíveis diante da pressa e da urgência de chegar até lá... sorrisos executivos amarelos e cinzentos da cor dos arranha-céus onde vivem.
A tristeza que hoje sinto é a mesma de alguém que esperava ansiosamente pelo entardecer para ver o pôr do sol à beira mar, às cinco e meia da tarde, mas caprichosamente, de repente cai um “pé dágua” frustrando a espera poética. Hoje me acho melancólico como a cena urbana que se pinta em bares e restaurantes dos pequenos e grandes centros, o que muda é apenas a classe que reveste a solidão de uma pessoa qualquer, sentada à mesa de um bar, com um cigarro em uma das mãos, uma garrafa de cerveja ao lado de um copo da mesma bebida, tendo em uma das mãos um celular que não “chama” e outro que não é “chamado”...
Minha tristeza hoje é comparada a de um cais sem barco; de um aeroporto sem avião, de um céu com uma lua distante, de um sorriso que segue em um coletivo que passa por mim muito rapidamente. Minha tristeza é assim, definível, palpável, friamente próxima de mim, quase sou eu a lamentar por aquilo que não foi. Minha tristeza está ligada a ausência que os meus olhos sentem de fazer leitura silenciosa do teu corpo, dos teus lábios, do teu sorriso, de você. E de não saber se tudo isso é apenas um poema de amor e saudade e tristeza ou se é amor ou uma forma de amar...
Xico Fredson!