domingo, 24 de fevereiro de 2008

UM MUNDO INCOLOR


Como seria o mundo sem poesia?
Alguém, de imediato, poderia dizer que nada seria alterado, tudo permaneceria na mesma.
Creio que não seria bem assim. O sumiço da poesia implicaria no desaparecimento, em cadeia, de uma serie de outras coisas, inclusive de nós mesmos.
Qual seria o sentido da existência das flores sem alguém para recebe-las? A entrega das flores é o primeiro e mais poético gesto de amor.
E o que dizer dos livros, qual seria o sentido de se escrever um romance sem poesia?
Nossa alma desfaleceria de inanição, embora o nosso cérebro se fartasse de obras racionais!
Sem poesia não haveria beleza e sem beleza não haveria o mais sublime dos poemas – a mulher – sem a mulher nada teria sentido em existir. Não existiriam as músicas, não existiria o desejo, não existiriam os heróis, imagine Lampião sem Maria Bonita, Orfeu sem Eurídice, Dante sem Beatriz... imagine eu sem você.
Pense na tristeza que seria uma noite sem luar, uma boca sem um beijo, você sem alguém em quem pensar.
Imagine um mundo sem Fernando Pessoa, sem Álvaro de Campos, sem Alberto Caeiro, a apatia que esse mundo teria sem Carlos Drummond Andrade, sem Manuel Bandeira, sem Pablo Neruda, sem Cora Coralina, sem Irene, sem Ana... um mundo visto dessa perspectiva, seria como um lugar que ainda não veio, que ainda habita o escuro ventre das idéias.
Sem flores não há fruto, sem fruto não há poesia, sem poesia não há vida, há o caos.
Imagine nunca mais repetir a frase “eu te amo” pra alguém; e o que dizer de nunca mais poder fazer aquelas promessas absurdas que só o amor nos induz a fazer; e nunca mais ter com quem brigar...
Imagine como a vida seria chata sem a guerra apaixonada dos amantes, aquela onde o campo de concentração é a cama vazia na solidão. E não mais sentir aquela coisa boa que é fazer as pazes, já que a paz dos apaixonados surge após varias missões diplomáticas, que começam com buquês de rosas, com cartas recheadas com o mais puro arrependimento e o mais sincero amor, diversos e diversos presentes, e depois de tudo isso... ah! Só aquele que já fez as pazes sabe o que acontece depois. Cada um recebe a paz e as delicias que o pós-guerra traz a sós e da maneira que lhe convém...
O mundo sem poesia seria um mundo em silencio...
Imagine você não ter por que lutar...
Não ter por quem esperar...
Não ter a quem amar...
Não ter a quem ouvir...
Não sentir aquela força arrebatadora que nos tira de nós, que nos desconcerta, que nos desconcentra. Não sermos mais traídos pelos nossos sentidos, não sermos mais ludibriados pelos nossos olhos a tramarem contra nós, afinal, quem nunca confundiu alguém que passa na rua com a pessoa amada? Seja pela maneira de andar, ou mesmo pela forma como se veste.
Quem nunca sentiu a fragrância inesquecível daquele perfume que caracteriza o cheiro do amor e não viajou na lembrança?
Quem nunca ouviu uma musica e personalizou na pessoa amada?
Você pode estar se perguntando o que tudo isso tem haver com poesia, se até agora só me arremeti a casais e ocasiões envolvendo-os?
Digo-lhes que como poeta, enxergo tudo ao revés, ou seja onde olhos comuns vêem apenas um casal, eu vejo poesia, porque o casal é a poesia que se faz carne, o beijo é o começo do sonho e um filho é a síntese de tudo...
Pois é no dialogo entre duas pessoas que se amam que estão os mais belos versos de amor, por que as promessas feitas no silencio de um beijo, na penumbra da sala, é um poema. Já que sem poesia, não existiria Deus, não existiria mundo e não existiríamos, porque no principio era o verbo intransitivo, o amor, e sem ele não há poesia.

Xico Fredson!

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