domingo, 24 de fevereiro de 2008

HABEAS CORPUS


Hoje vou reinventar a minha vida, não vou trabalhar, não vou estudar, não vou fazer nada que pareça útil aos olhos da sociedade, vou dormir até mais tarde, vou observar meu filho brincar, vou andar descalço, ficar de pijama na sala, não vou ler o jornal, não vou assistir à tevê, não! Vou ouvir música, vou ver meus vídeos antigos, reler cartas que meu amor me enviava quando éramos jovens e estávamos juntos até em pensamento, vou rever os velhos álbuns de fotografia, ouvir as velhas músicas daquele tempo, enfim, vou fazer tudo que não faço há anos, desde que eu deixei de viver e passei a ser mais um a engrossar a massa de profissionais que se desprendem de valores e prazeres antigos.
Vou levar meu filho à escola, vou apanha-lo mais tarde, vou assistir ao seu treino no futebol, vou torcer por ele no campeonato da escola, vou tomar sorvete com ele, vou soltar pipa na rua, vamos andar de bicicleta, juntos, por longas horas, e conversar sobre as coisas mais diversas, quero a sua amizade e o seu amor.
Vou amar minha mulher como se fosse a primeira vez, quero sentir o mesmo nervosismo, a mesma ansiedade, o mesmo desejo, tudo de novo. Quero olhar novamente nos olhos dela e repetir todas as juras que fizemos na adolescência, quero pedi-la em namoro, vou me casar novamente com ela, quero convidá-la a envelhecer junto comigo, irei dizer-lhe coisas que nunca fui capaz de falar antes, quero surpreendê-la. Quero pedir desculpas por todas as vezes que não disse o quanto a amo e o quanto ela é linda e me faz bem. Quero dizer a ela o quanto ela torna minha vida mais fácil de ser vivida, acho que o que quero realmente dizer é que sem ela não existiria um eu.
Vou cuidar de minhas plantas no quintal, vou voltar a ser criança. Subir em árvores, pegar a fruta no cacho, aproveitar mais a vida, viver!!! Vou fugir do sistema que me oprime, vou cometer um homicídio contra o executivo que há em mim e vou ressuscitar a criança que vive presa ao meu relógio, ao tempo que nunca dá, que sempre é escasso. Preciso sentir fome de viver novamente, preciso aprender a conjugar o Carpem dien como os antigos faziam e viviam tão bem.
Quero reaprender a sorrir sem ligar pra o que digam, vou deixar de viver minha vida pautada na opinião dos outros, vou cantar aquela canção que me ajudou a conquistar aquela menina com quem vivo até hoje e de quem não me quero separar jamais. Espero que o disco continue a tocar até... o outro baile da vida. Reunirei a família para fazermos aquela viagem que a gente vem combinando há tanto tempo, vamos para qualquer lugar onde haja um mar, onde eu possa ver o pôr-do-sol, onde eu possa me extasiar com o brilho da lua na areia, navegarei, andarei descalço naquela área que fica entre o mar e a terra; sentirei a brisa, o frio, abraçar-te-ei, beijar-te-ei, contemplar-te-ei como um monge contempla a natureza.
E depois de tudo isso, se eu tiver esquecido alguma coisa, por favor me ajude, caro leitor, acrescente seu pensamento, seus desejos e aventuras; conjugue seus verbos exorcize seus medos; recite uma poesia, ame alguém, bendiga o nome da pessoa amada, sinta saudade dos velhos tempos e, se possível, volte a eles, volte a sua infância, a sua adolescência ou àquele lugar onde você se sinta feliz, continue a escrever essa crônica de onde eu parei, TOME-A, ela é sua! redija o que lhe convier, o que lhe agradar ou o que não lhe agradar se for o caso, mas redija algo, o tema é livre assim como você....

Fredson...

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